Embora a endometriose seja uma doença ginecológica, ela pode estar associada a outras condições de saúde. Uma delas é a Síndrome do Intestino Irritável (SII). Juntas, essas duas patologias afetam de forma significativa a vida da mulher. Na pesquisa realizada pelo ginecologista Dr. Edvaldo Cavalcante, em parceria com o Gapendi, 38% das entrevistadas citaram que foram diagnosticadas com a SII, como uma comorbidade da endometriose.
A inflamação e a dor pélvica crônica são características compartilhadas por ambas. As prevalências também são parecidas: enquanto a endometriose atinge de 10 a 15% das mulheres em idade fértil, a SII atinge de 9 a 12,8%.
Curiosamente, quando a mulher recebe o tratamento para a endometriose, por exemplo, nota-se melhora dos sintomas da SII e o contrário também é verdadeiro, ou seja, ao tratar a SII por meio de dieta, nota-se um alívio da dor durante o período menstrual
Segundo Dr. Edvaldo, quando a mulher apresenta inchaço abdominal ou pélvico, assim como quadros de diarreia e constipação, o ideal é investigar ambas as condições. “Estes sintomas podem tanto estar relacionados à endometriose, quanto a patologias do sistema gastrointestinal, como a SII. Porém, na prática muitas mulheres recebem apenas o diagnóstico do intestino irritável, sem imaginar que podem ter também endometriose”.
Endometriose pode causar sintomas intestinais
Um estudo recente sugeriu que a síndrome do intestino irritável pode ser uma manifestação da endometriose. Na pesquisa, 90% das mulheres com endometriose apresentaram também sintomas gastrointestinais.
“O que acontece é que os sintomas do intestino irritável podem estar relacionados com a presença das células da endometriose no reto e na vagina, no sigmoide ou no cólon. Quando a endometriose atinge o intestino delgado também são sintomas comuns o inchaço, flatulência e dor, ou seja, manifestações facilmente confundidas com a SII”, explica Dr. Edvaldo.
Qual a relação entre a endometriose e o intestino?
As causas da endometriose são multifatoriais. Embora a origem exata da doença não esteja totalmente esclarecida, sabe-se que para que as células do endométrio se proliferem para fora da cavidade uterina, elas precisam de um ambiente pró-inflamatório, ou seja, um ambiente que dê condições para criar uma inflamação.
“Esse ambiente é criado por inúmeros fatores, dentro os quais a disbiose, com consequente comprometimento da permeabilidade intestinal. A disbiose é um desequilíbrio dos micro-organismos que habitam nosso sistema gastrointestinal. Podemos dizer que ocorre uma proliferação prejudicial de certas bactérias, que leva a problemas na absorção dos nutrientes, assim como altera o sistema imunológico”, comenta o médico.
Além do intestino estar envolvido na digestão e na absorção dos alimentos, o órgão é uma barreira de proteção, pois suas paredes, quando saudáveis, impedem que toxinas ou nutrientes mal absorvidos entrem na corrente sanguínea. Entretanto, a disbiose enfraquece a parede intestinal aumentando a sua permeabilidade. Isso significa que essas substâncias nocivas têm uma maior chance de passar para a corrente sanguínea.
“Quando isso acontece, o sistema imunológico pode interpretar com uma invasão e irá acionar o sistema de defesa, levando a uma reação inflamatória. Assim, essa inflamação favorece a endometriose e pode também levar à irritação do intestino”, diz Dr. Edvaldo.
Dieta pode melhorar sintomas das duas condições
Atualmente, muitas pacientes seguem a dieta FODMAP, sigla para Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols. Na prática, a dieta recomenda a eliminação de certos alimentos, tanto frescos, como industrializados. Alho, cebola, melancia, repolho, feijão, pão, leite e derivados são alguns alimentos que devem ser evitados. Mas, atenção: essa dieta só deve ser feita com o acompanhamento de um nutricionista.
“Vimos na nossa pesquisa que a endometriose e a SII atingem um número considerável de mulheres, quase 40%. Assim, é muito importante que o acompanhamento dessas pacientes seja feito de forma multidisciplinar, para que cada especialidade possa gerenciar os sintomas e assim contribuir para a melhora da qualidade de vida das pacientes”, conclui Dr. Edvaldo.